Na reunião mais longa dos últimos 14 meses, o Comitê de
Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu subir os juros básicos
da economia em um ponto percentual, para 26,5% ao ano, a maior taxa desde maio
de 1999. Os diretores do BC também aumentaram a alíquota dos depósitos
compulsórios à vista, que passou de 45% para 60%. As medidas devem retirar R$ 9
bilhões do sistema financeiro e aumentar a dívida pública em R$ 3,9 bilhões. O
objetivo é tentar aproximar as estimativas de inflação para este ano (11,99%) à
meta ajustada e definida pelo BC (8,5%).
Depois de mais de cinco horas
de reunião, os diretores foram unânimes em optar pela alta dos juros devido aos
sinais de resistência da inflação. "Diante desse quando a diretoria decidiu
elevar os juros". Os detalhes da reunião serão conhecidos na ata da reunião que
será divulgada na próxima semana. O mercado financeiro já esperava pela alta dos
juros, mas ficou surpreso com a alteração na alíquota do compulsório à vista.
O saldo de depósitos à vista estava em R$ 61,911 bilhões, em dezembro,
segundo dados do BC. Com a mudança na alíquota, de cada R$ 1 depositado nos
bancos R$ 0,60 têm de ser guardados no BC sem nenhuma remuneração. No total
serão R$ 9 bilhões. "A medida vai afetar os grandes bancos que terão menos
recursos disponíveis e podem encarecer o custo do crédito ao consumidor", disse
o economista do BicBanco, Luiz Rabi.
A Fenacrefi (Federação Nacional das
Financeiras) estima que o financiamento para automóveis ficará mais caro
imediatamente. No Crédito Direto ao Consumidor (CDC) o impacto será no médio
prazo. O crédito pessoal não deve ter alteração nas taxas porque o alto nível de
desemprego e a queda dos salários impede que o consumidor tome recursos
emprestados. "As carteiras de crédito estão deprimidas e os prazos estão cada
vez menores", disse o economista do ABN Amro Asset Management, Aquiles Mosca.
O fato de a demanda por bens estar desacelerada não justifica o aumento
na alíquota de compulsórios, na opinião do economista do BankBoston, José
Antonio Pena. "A inflação não é por demanda e não faz sentido subir o
compulsório", disse. Mas a elevação dos juros e da alíquota do compulsório vai
favorecer a dívida pública e o crescimento econômico. A avaliação de Marcello
Paixão, superintendente de produtos do Maxblue é de que o aumento de juros e
compulsório será equivalente à elevação de dois pontos percentuais na taxa de
juros.
Uma elevação maior dos juros reduziria ainda mais a expectativa
de crescimento econômico de 2,8% neste ano. O impacto na dívida pública indexada
aos juros básicos da econômica (R$ 397,53 bilhões) seria superior aos R$ 3,9
bilhões ocasionados pela elevação dos juros em um ponto percentual. Mesmo assim,
dificilmente a meta de inflação será atingida no ano. "O BC está no caminho
certo, mas a inércia inflacionária precisa ser quebrada", disse o economista do
JP Morgan, Fábio Akira.
A indústria e o comércio rechaçaram a elevação
dos juros. A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) criticou a
"excessiva dependência do governo em relação à política monetária". O presidente
da instituição, Horácio Lafer Piva, disse que o crescimento da economia nos
primeiros seis meses do ano já está comprometido. "É insustentável a opção de se
combater a inflação com elevação do desemprego, queda dos salários reais e
arrocho de margens do setor produtivo". Segundo a Fiesp, o aumento da alíquota
dos compulsórios penaliza os setores produtores de bens duráveis e de bens de
capital.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) informou que a
elevação dos juros "vai produzir sacrifícios adicionais, com impacto recessivo
ao setor produtivo". O presidente da CNI, deputado Armando Monteiro Neto
(PMDB-PE) espera que as medidas tenham curta duração. "O único aspecto positivo
é a "demonstração da disposição do governo em não dar trégua à inflação", disse.
O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (SP), disse que a expectativa
de guerra e a herança do governo Fernando Henrique Cardoso não permitem fazer
neste momento a tão desejada redução da taxa de juros. Já o senador do PSDB,
Romero Jucá (RR), afirmou que foram "duas medidas recessivas, contrárias ao
discurso do PT de 20 anos".
Os investidores já esperavam a decisão do
BC. A demora no anúncio das medidas paralisou os negócios no mercado financeiro.
O dólar subiu 0,64% para R$ 3,615, na venda. A Ptax, média das cotações do dólar
apurada pelo BC, ficou em R$ 3,5935, subiu 0,13%. Na Bolsa de Mercadorias e
Futuros (BM&F), os juros para julho saíram de 27,93% para
28,16%.
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