O Bradesco anunciou ontem a compra do banco BMC, a segunda
maior instituição privada no crédito consignado (com desconto em folha) para
aposentados e pensionistas do INSS. A operação, de R$ 800 milhões, será paga com
ações preferenciais e ordinárias emitidas pelo Bradesco após conclusão do
negócio, que ainda depende de permissão de autoridades competentes e de um
processo de análise das contas da instituição, o chamado due diligence.
O
BMC foi fundado em 1939 pela família Pinheiro na cidade de Fortaleza, no Ceará,
como um banco de varejo. De lá pra cá passou por, pelo menos, duas
reestruturações até chegar ao comando atual, de Jaime Pinheiro, que comprou as
ações de seus outros irmãos. Nas suas mãos, o banco passou a privilegiar o
crédito para empresas de médio porte e pessoas físicas. Hoje a instituição tem
sede em São Paulo e agência em Grand Cayman, onde subsidia operação de clientes
no exterior. Os irmãos que venderam as ações do BMC criaram o Banco
Pine.
A carteira de crédito do BMC, de R$ 2 bilhões, não é expressiva
ante a grandeza dos números do Bradesco - de R$ 100,3 bilhões até setembro,
incluindo avais e fianças. Mas garante ao banco excelência na concessão de
empréstimo consignado e o segundo lugar no ranking privado. Cerca de 58% da
carteira do BMC é de crédito com desconto em folha, 18% de financiamentos e
leasing de veículos e 24% de empréstimos comerciais e empresas de pequeno e
médio portes.
Com a aquisição, o Bradesco deve dobrar sua participação no
empréstimo consignado para algo em torno de R$ 3 bilhões. Isso sem considerar os
valores de créditos adquiridos de outras instituições, que somariam mais de R$ 1
bilhão. “O potencial deste setor é imenso. Hoje apenas 5 milhões de aposentados
tem empréstimos com desconto em folha dentro de um universo de 25 milhões de
pessoas”, destaca o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano.
Mas,
segundo ele, o crédito consignado é uma área que exige forte experiência para a
instituição atuar, o que explica a aquisição anunciada ontem. “Esse é o ponto
forte do BMC. Por isso acreditamos que teremos um bom resultado num curto espaço
de tempo. Pulamos algumas etapas de crescimento com essa operação”, afirmou ele,
referindo-se à rede de 7.000 agentes e 749 correspondentes bancários. Entre
abril e dezembro de 2006, o BMC registrou crescimento de 69% na sua carteira de
crédito consignado.
A instituição conta também com 14 agências no País,
especialmente no Nordeste. A vice-presidente do banco, Andrea Pinheiro, explicou
que entre 30% e 40% das operações de crédito consignado estão na região. Segundo
ela, 90% dos clientes têm empréstimos com prazos de 36 meses e valor de R$
1,500.00.
Cypriano garantiu que a marca BMC vai continuar, além de
praticamente toda equipe. Os ativos da instituição somam R$ 2,3 bilhões e o
patrimônio líquido, R$ 278 milhões.
Na avaliação de especialista, a
aquisição feita pelo Bradesco tem caráter estratégico para crescer no crédito
consignado, cujo avanço nos últimos anos tem sido surpreendente, acima das
demais modalidades, afirma o analista da Austin Rating, Luis Miguel Santacreu.
Segundo ele, bancos como BMC foram pioneiros na concessão de crédito consignado,
antes da febre dos empréstimos pelos aposentados. Por isso, eles têm know how no
assunto.
Os bancos grandes entraram nesse nicho na crise do Banco
Santos, em que os médios bancos ficaram descapitalizados e venderam parte de
suas carteiras. Santacreu acredita que esse é apenas o início de um movimento
que se deve estender entre os demais privados de grande porte. “Essa compra pode
motivar outras negociações.”
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