Juros do crédito consignado

A Força Sindical e a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) firmaram ontem protocolo de orientação para reescalonamento de pagamentos de crédito consignado. O objetivo é reduzir os impactos da crise econômica entre os trabalhadores da iniciativa privada que aceitaram os acordos de redução de jornada de trabalho e de salário propostos pelas empresas para evitar demissões. Pelo protocolo, sempre que ocorrer acordo coletivo que proponha redução ou suspensão de salário, o pagamento das prestações poderá ser reduzido ou suspenso pelo mesmo período em que vigorar o acordo.

O documento prevê que a empresa envie ao banco responsável pelo empréstimo uma lista com todos os nomes dos funcionários que têm crédito consignado e os valores dessas prestações descontadas em folha de pagamento, além de uma cópia do acordo feito com o sindicato. O funcionário deve procurar o banco para discutir os valores e prazos de sua operação.

O diretor executivo da Febraban, Hélio Ribeiro Duarte, disse que os bancos não são obrigados a aderir ao programa, mas acredita que todos seguirão a orientação. "É uma coisa boa para todos os bancos, e não há motivo para que eles não sigam a orientação que vamos dar. Os representantes dos bancos participaram das negociações e deram seu ‘de acordo’ para que o protocolo fosse assinado." O acordo vale por um ano e que pode ser prorrogado, caso a crise não se resolva nesse período.

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, destacou o aspecto simbólico da iniciativa dos bancos com a assinatura do acordo. Segundo ele, o gesto mostra que, na crise, todos devem ceder para sair do problema.

"À medida que fazemos os acordos nas empresas, percebemos que um trabalhador que fez um empréstimo consignado de até 30% de seu salário está vivendo com 70% do que ganha. Quando reduz a jornada e o salário em mais 20%, ou suspende o contrato, ele passa a viver apenas com o salário do seguro-desemprego, ou vai viver com 50% do salário".

Paulinho enfatizou que a primeira preocupação da Força foi manter os empregos, o que está acontecendo com a redução de jornada e salário e com a suspensão de contratos. Com o protocolo, o que deve ocorrer é a permanência da renda. "Se conseguimos manter emprego e renda, vamos sair da crise, porque os trabalhadores vão ganhar e comprar. Se o trabalhador perde o emprego, não paga dívida no banco. Por isso, os banqueiros também ganham com isso." A Força Sindical estima em cerca de 200 mil o número de trabalhadores têm crédito consignado.

A diretoria do Banco BMG recebeu na semana passada 150 empresários pernambucanos para jantar de confraternização, no Instituto Brennand, comemorando o crescimento das operações de crédito no setor privado, por meio dos empréstimos com desconto em folha, e o sucesso da captação de recursos no exterior - foram mais de US$ 100 milhões desde junho do ano passado- além do lançamento dos fundos de recebíveis.

A instituição financeira encerrou 2003 com R$ 1,24 bilhão em operações de crédito, que devem chegar a R$ 2 bilhões até o final de 2004, um crescimento de 61%. O banco tem como principal foco de atuação o Crédito Direto ao Consumidor (CDC), especialmente o financiamento com desconto em folha. A estrutura do banco é considerada enxuta: dez agências no País e 296 funcionários.