Itaú tem o maior lucro da história dos bancos
Autor: Carlos Franco
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/02/2005, Economia, p. B3

O Banco Itaú fechou 2004 com o lucro de R$ 3,776 bilhões, um salto de 19,80% ante os R$ 3,152 bilhões de 2003. Os acionistas vão ficar com R$ 1,372 bilhão, equivalente a R$ 12,11 por ação. Esse é o maior lucro líquido da história de um banco do País e da América Latina, segundo a consultoria Economática, especializada em balanços. O recorde até então era do Banespa, em 1997, de R$ 3,407 bilhões corrigidos pela inflação. O lucro do Itaú só não ultrapassou os R$ 4 bilhões, segundo o presidente do banco, Roberto Setubal, porque descontou o custo da totalidade das aquisições realizadas durante 2004. Ele citou de exemplo a constituição, com o Grupo Pão de Açúcar, de uma financeira para oferecer créditos aos clientes da rede de varejo, a compra de participação na Credicard (50% - os outros 50% ficaram com o Citibank), a totalidade da Orbitall (administradora de cartões, inclusive os do Citibank), além da carteira de clientes da mineira Intercap.

Juntas, essas aquisições totalizaram R$ 1,2 bilhão, dos quais R$ 790 milhões incidentes no último trimestre. Setubal enfatizou que o banco "tem por tradição não diluir ágios de aquisições nos balanços, descontando tudo no ano em que se realiza a operação." O que, garante, é um ganho para o acionista na frente.

Para amortizar, no entanto, o efeito dessas compras, o Itaú, diz Setubal, chegou a vender cerca de R$ 500 milhões em títulos que tinha na carteira. Ele atribuiu esse lucro ao crescimento da carteira de empréstimos, à redução da inadimplência, ao ganho de eficiência e com serviços, mais que aos ganhos de tesouraria - com os títulos em que o aumento da taxa de juros eleva a rentabilidade.

As receitas da intermediação financeira somaram R$ 17,271 bilhões, o que significou uma evolução de 20,28% em relação a 2003. As despesas da intermediação financeira subiram 75,64%, para R$ 6,144 bilhões, e o resultado bruto da intermediação avançou 10,58%, chegando a R$ 10,200 bilhões.

As operações de crédito e arrendamento mercantil (leasing) somaram R$ 9,363 bilhões, crescendo 28,52%, e o resultado de títulos e valores mobiliários chegou a R$ 5,960 bilhões, com elevação de 21,06%. A provisão para créditos de liquidação duvidosa caiu 28,32% para R$ 1,582 bilhão.

Já as receitas de prestação de serviços atingiram o montante de R$ 6,165 bilhões no ano passado, com recuo de 20,39%. "As tarifas do público não têm tanto peso nessa conta, onde a prestação de serviços, como a que a Orbitall irá fazer, são mais importantes."

O banco também recolheu ou provisionou impostos no valor de R$ 4,051 bilhões no ano passado, retendo R$ 5,349 bilhões dos clientes, em forma de tributos repassados ao governo. Os recursos totais evoluíram 15% de um ano para outro, atingindo R$ 211,238 bilhões, dos quais 23,3% direcionados a fundos de investimentos. O banco, disse Setubal, também acabou registrando um ganho de R$ 82 bilhões por ter provisionado a mais o recolhimento ao INSS.

Setubal espera para este ano uma expansão de 15% a 20% para a carteira de crédito. Como a alta dos juros garante também a rentabilidade dos títulos em carteira, o banco se prepara para lucros também exuberantes em 2005.

Para o executivo, o País está crescendo no ritmo certo, de forma sustentada. "A elevação contínua das taxas de juros me surpreendeu, mas hoje vejo que o Banco Central (BC) acertou porque as pressões inflacionárias eram reais. E o País tem de crescer no ritmo certo."

Ele acha que o juro teve efeito sobre a inflação, que só não foi maior por conta dos aumento dos gastos públicos , e prevê que a taxa básica, a Selic, deve encerrar o ano entre 14% e 15%. Já o dólar deve encerrar cotado abaixo de R$ 3,00 e a inflação, "sob controle, na casa de 6%.