BMG: R$ 1,26 bi de prejuízo
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 19/05/2011, Economia, p. 14

Os bancos no país nunca registraram tantos prejuízo como nos últimos dois anos. Mesmo com todo o excesso de dinheiro em circulação na economia e a forte expansão do crédito, 54% das 50 maiores instituições amargaram perdas em 2009 e 2010: R$ 1,26 bilhão. Levantamento do Correio com base em dados do Banco Central revela que jamais uma quantidade tão grande de instituições esteve no vermelho.

Nem mesmo no período de 1995 a 1997, quando várias foram à falência, comandos trocaram de mãos e o país se viu obrigado a criar o Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro Nacional (Proer) para que um segmento inteiro não fosse à bancarrota. Diante desse quadro, o mercado bancário passa por uma nova rodada de consolidação. ¿Começou uma temporada de compra e venda¿, disse José Luís Rodrigues, diretor da consultoria JL Rodrigues.

Apesar de haver 1,8 mil instituições financeiras no país, o sistema é bastante concentrado, já que apenas sete são responsáveis por mais de 80% de todas as operações de crédito e do lucro do segmento. Com a balança da rentabilidade pesando fortemente para um único lado, os primeiros movimentos do jogo de aquisições começaram. Além do caso mais famoso, a compra do PanAmericano pelo BTG Pactual, várias instituições médias foram alvo de aquisição, como o Banco Indusval, o Matone e o Banco Pine.

O BMG, em franca expansão e aproveitando as oportunidades que começam a surgir, adquiriu primeiro o Schahin e quase comprou o Morada, que sofreu intervenção do BC. A negociação somente não se viabilizou porque o banco mineiro não tinha garantias suficientes para dar ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC). O Itaú Unibanco, por sua vez, comprou 49% do banco Carrefour por R$ 725 milhões. O Rabo Bank, da Holanda, tornou-se sócio do Bansicred no fim do ano passado, ao arrematar 30% da instituição.

Se, para o consumidor, esse movimento pode ser ruim porque diminui a concorrência, aos olhos do governo é excelente porque uma consolidação reduz o número de instituições frágeis e aumenta a saúde do sistema. Autoridades, no entanto, garantem que o sistema passa por um bom momento. ¿Frente a seu tamanho, os prejuízos são insignificantes¿, garantiu um integrante do BC.

Uma fatia desses prejuízos faz parte da estratégia de algumas instituições estrangeiras, que vieram para o Brasil quase que unicamente para fazer operações de hedge (proteção contra oscilação cambial) e de financiamentos à importação e à exportação. Não estranhamente, 81,5% dos bancos com perdas em 2010 têm origem de fora do país.

Parte dos bancos de menor porte, porém, tem mais do que a mudança de dono em comum. Alguns deles amargaram grandes prejuízos, estavam em dificuldades para captar depósitos e seus índices de Basileia (pelo menos 11% do patrimônio que deve ser guardado para fazer frente aos riscos) caminhavam para ficar abaixo do limite permitido.

O Matone, por exemplo, perdeu R$ 59 milhões no ano passado e sua Basiléia, até dezembro, estava em 4,3% ¿ menos da metade do que as regras mandam. Pelo menos 10 instituições seguiam nessa direção até dezembro. Agora, bancos que estão passando por situação semelhante podem ser os próximos alvos de aquisição, ao menos é o que indica o Relatório de Estabilidade Financeira do BC. Algo entre 7,5% e 8,5% dos bancos podem se desenquadrar, caso haja algum tipo de crise econômica. Para especialistas, essa é a quantidade de instituições que podem se tornar disponíveis para trocar de mãos.

Pente-fino O documento dá mais pistas do que deve ocorrer com o sistema bancário e do perfil das instituições que podem entrar na roda de negociações. O BC explica que alguns bancos, que atuam com concessão e cessão de crédito, devem ser afetados no longo prazo por normas da própria instituição e por regras internacionais, como as novas exigências de Basileia III e a Resolução nº 3.533, que mudam o sistema de compra e venda de carteiras de crédito. ¿Depois do caso PanAmericano, ficamos de olho nessas instituições e passamos um pente-fino nelas¿, afirmou um técnico.

Para Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), quem tiver dificuldade em cumprir as exigências do BC pode acabar se transformando em oportunidade de negócio. ¿Estamos em um momento favorável à consolidação de bancos¿, afirmou. Juliana Guimarães, diretora de Investimento do Banco Bonsucesso, um dos que até dezembro estava com a Basileia em um patamar baixo, disse que a instituição resolveu o problema de capitalização com a emissão de dívida no exterior de US$ 125 milhões. Segundo ela, o índice do banco está em 18%.

Douglas Godim, gerente da mesa de operações do Pottencial, instituição cuja Basileia caiu de 21,02% em setembro para 11,98% em dezembro, ressaltou que o padrão normal do banco é operar sempre próximo de 12%, acima do limite. ¿Nós chegamos a 21% por causa de uma capitalização, depois voltamos a operar no nosso nível tradicional¿, justificou. Segundo ele, o banco está sólido e é líder na área de fiança bancária.