Banco Central sabia do empréstimo de R$12 milhões do BMG à SMP&B
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 12/12/2005, O País, p. 4

Deputado vai tentar convocação de dirigentes do BC para depor na CPI

BRASÍLIA. Relatório de fiscalização de 2003 do Banco Central mostra que a instituição já sabia da existência e monitorava um empréstimo de R$12 milhões do BMG à SMP&B, agência de Marcos Valério. À época, o BC enquadrou o financiamento à SMP&B entre créditos que o BMG devia reavaliar, devido ao potencial de risco da operação.

Para integrantes da CPI dos Correios, a descoberta reforça a tese de que pode ter havido falha ou negligência na fiscalização e que o esquema montado por Valério para repassar recursos ao PT e seus aliados poderia ter sido descoberto antes.

O sub-relator de movimentação financeira da CPI, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), afirma que apresentará requerimentos de convocação de dirigentes do BC, caso não sejam dadas explicações convincentes sobre as inspeções realizadas no BMG e Banco Rural.

¿ Se não vier esclarecimento claro, isso é motivo de convocação. Ao sabermos agora que o BC tinha conhecimento e monitorava desde 2003 a operação de crédito da SMP&B, isso nos leva a supor que integrantes do Banco Central poderiam saber até mesmo que o dinheiro era para o PT ¿ observa Fruet.

Reclassificação pedida em junho de 2003

No dia 23 de junho de 2003, o Departamento de Supervisão Direta do BC em Belo Horizonte já determinava a reclassificação de risco do empréstimo de A para C ¿ numa escala em que A é o de menor risco e H o maior¿, assim como o aumento do provisionamento da dívida de R$50.228,64 para R$351.358,64. ¿Os ajustes gerenciais são considerados pelo Banco Central como motivo de alerta e acompanhamento, uma vez que podem vir a se constituir em perda efetiva para o conglomerado (BMG)¿, diz relatório do BC.

No dia 8 de julho deste ano, depois de o escândalo se tornar público, o BC notificou o BMG sobre o resultado de uma inspeção realizada em maio. No comunicado, o empréstimo contraído pelo PT em fevereiro de 2003, no valor de R$2,4 milhões, também foi apontado como de alto risco, já que apresentava como garantia apenas o aval de representantes do partido.

A assessoria do BC rebateu as insinuações de negligência sobre a fiscalização do BMG e do Rural. O BC sustenta que atua com rigor e dentro da lei. O BC evitou comentar o conteúdo dos relatórios, alegando que são informações protegidas por sigilo bancário. O BC lembrou que vem auxiliando o trabalho da CPI com documentos e a cessão de técnicos.

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