Itaú faz proposta de R$ 2 bilhões para comprar 50% do banco BMG
Autor: Balarin,Raquel ; Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2007, Finanças, p. C1

As novas denúncias envolvendo o banco mineiro BMG não reduziram o apetite do Itaú pela instituição financeira. O segundo maior banco privado brasileiro fez uma proposta à família Guimarães, controladora do BMG, para adquirir 50% da instituição por cerca de R$ 2 bilhões, segundo apurou o Valor. A oferta também prevê o pagamento de outro R$ 1 bilhão, caso o banco mineiro atinja metas de lucro, volume de empréstimos e receita em um prazo de cinco anos.

A gestão deverá seguir com os Guimarães, embora o Itaú passe a ter o direito de indicar alguns diretores. Na proposta - costurada depois de mais de um ano de negociações - está prevista ainda uma opção de compra dos 50% restantes das ações do BMG.

Procuradas, ambas as instituições preferiram não se manifestar. O Itaú informou que não comenta rumores de mercado e o BMG, que não se pronuncia sobre boatos. Apesar disso, um executivo financeiro de Minas Gerais disse que uma "due dilligence" (verificação dos números do banco) estava prevista para esta semana.

O Itaú tem até o início de novembro para concluir a negociação, quando vence o "right of first refusal" - direito obtido pelo Itaú quando da aquisição da carteira de crédito do BMG e que lhe dá prioridade nas tratativas.

Segundo apurou o Valor, embora sofra resistências internas por conta do risco de imagem do BMG, o presidente do Itaú, Roberto Setubal, está convencido de que é necessário adquirir a participação no banco mineiro. Dois fatores teriam pesado em sua decisão. Primeiro, o fato de que é cada vez mais provável que o consórcio formado pelo Royal Bank of Scotland (RBS) e pelo Santander adquira o holandês ABN AMRO. Com isso, o banco espanhol ficaria no Brasil com o Real e daria um forte salto no ranking das maiores instituições privadas no país. No ranking do Banco Central (não consolidado, que exclui atividades como seguros) a soma dos ativos totais de Santander e ABN Real chegaria a R$ 270,8 bilhões, segundo dados do balanço de junho deste ano. O Itaú tem R$ 248 bilhões.

O segundo fator que influenciou a decisão de Setubal é o interesse já demonstrado pelo Bradesco no BMG. No início deste ano, o Bradesco adquiriu o BMC, também forte em empréstimos consignados, e manteve à frente da gestão a executiva Andréa Pinheiro, filha do ex-controlador da instituição.

Segundo um executivo de um banco de investimento, o BMG vem há bastante tempo discutindo alternativas de capitalização, inclusive a abertura de capital em bolsa. Mas os controladores chegaram à conclusão de que, antes de ofertar ações, seria melhor fechar a operação de venda de parte do capital a um grande banco, porque isso melhoraria o custo de captação da instituição e aumentaria sua rentabilidade. De acordo com esse mesmo executivo, o BMG é um dos que mais geram créditos de varejo no país - cerca de R$ 500 milhões ao mês. "Isso é mais do que gera por mês o ABN AMRO Real, se excluído o crédito corporativo de atacado", ressaltou.

O mineiro BMG é líder em empréstimos consignados (com desconto em folha de pagamento), principalmente para aposentados e pensionistas do INSS. O consignado responde por nada menos que três quartos do resultado líquido da intermediação financeira do banco e 86,7% da carteira de crédito originada (própria e cedida a terceiros), segundo dados da agência de classificação de risco Fitch Ratings com base no balancete do primeiro trimestre da instituição. Do total de crédito, 44,6% correspondem a empréstimos para aposentados e pensionistas.

Foi exatamente a carteira do INSS que rendeu a mais nova denúncia contra a instituição mineira. No início do mês, o advogado Bruno Brito Lins, ex-marido de uma funcionária do gabinete do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), acusou o banco, em entrevista a revistas semanais, de ter pago propina ao então presidente do INSS para favorecê-lo. O BMG foi o primeiro a ser cadastrado pelo órgão para oferecer empréstimos a aposentados e pensionistas.

O nome do BMG já havia aparecido no escândalo do mensalão, ao se descobrir que o banco da família Pentagna Guimarães, uma das dinastias mais ricas de Minas Gerais, havia emprestado R$ 2,4 milhões para o Partido dos Trabalhadores. No contrato, o aval fora dado por Marcos Valério de Souza, dono das agências DNA e SMP&B, e pelos dirigentes petistas José Genoíno e Delúbio Soares. Além desse empréstimo, o banco deu financiamento às agências de Valério, a outras empresas do publicitário e até mesmo para o advogado dele, em um valor superior a R$ 41 milhões. Como garantia de que honraria dos empréstimos, Valério apresentou contratos de publicidade com os Correios e com a Eletronorte. A instituição ficou tão próxima do PT que chegou a empregar a ex-mulher do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.

Os diretores do BMG não foram incluídos na denúncia do procurador Antonio Fernando de Souza, recentemente apreciada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O controlador Flávio Guimarães, seu filho e presidente do banco, Ricardo Guimarães, e os diretores Márcio Alaor e João Batista de Abreu foram denunciados há mais de um ano na 4ª Vara da Justiça Federal em Belo Horizonte e o processo subiu ao STF quando Genoíno elegeu-se deputado federal. O relator é o mesmo Joaquim Barbosa que relatou a denúncia do mensalão.

Embora o risco político e de imagem do BMG seja alto, sua operação parece ir bem. A agência Fitch, que em junho aumentou a classificação de risco da instituição, destacou "sua contínua liderança e forte experiência no crédito consignado, mesmo com a alta e crescente concorrência, além da boa qualidade dos ativos de crédito e dos índices de desempenho, que têm favorecido sua formação de capital". Mas a Fitch também ressalta que consideraria "prudente" um reforço da sua estrutura patrimonial. Tudo indica que esse reforço atende pelo nome de Itaú.