BMG vai à Justiça para cobrar PT
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/08/2005, Nacional, p. A11

RIO - O PT não pagou o empréstimo de R$ 2,4 milhões que fez no banco BMG no início de 2003, com aval do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. O prazo venceu ontem, às 18 horas. Hoje os advogados do banco entrarão com pedido de execução judicial contra o partido, que será citado em 24 horas para efetuar o pagamento ou nomear bens para serem penhorados. O saldo atualizado da dívida é de R$ 3.370.243,68. Também serão citados os avalistas do empréstimo - além de Marcos Valério, o ex-presidente do PT José Genoino e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares. "A dívida é do PT. Se o partido não pagar e não apresentar bens, os avalistas terão bens penhorados, mas poderão solicitar o direito regresso", afirmou o advogado Raphael Miranda, referindo-se ao fato de que os avalistas podem cobrar do PT, depois, o ressarcimento das quantias que pagarem em nome do partido.

O empréstimo, que detonou a ligação entre o PT e o esquema de Marcos Valério, causou a saída de Delúbio do cargo de tesoureiro do partido. Entre fevereiro de 2003 e julho de 2004, foram cinco os empréstimos concedidos pelo banco BMG ao PT e a empresas ligadas a Marcos Valério.

Sem atualização de valores, as operações somam R$ 43,6 milhões. Somente um deles foi quitado, no valor de R$ 12 milhões, contraído e pago pela agência de publicidade SMPB, de Marcos Valério.

MAIS TRÊS

Além da dívida que venceu ontem, outras três operações têm vencimento no dia 1.º de setembro e, segundo adiantaram os advogados do BMG, também serão executadas judicialmente, caso não sejam pagas.

Os outros três empréstimos foram feitos para a SMPB e a Graffiti Participações, que têm a mulher de Valério, Renilda de Souza, como acionista, e Tolentino e Associados, do advogado Rogério Tolentino, também sócio do empresário mineiro.

A coincidência de datas nas operações feitas no BMG mostram que alguns empréstimos tomados por Valério serviram para pagar total ou parcialmente outros financiamentos feitos por ele no banco.

Foi dessa forma que o empresário amortizou uma parcela de R$ 350 mil da dívida do PT. Esse mesmo empréstimo já havia sido amortizado outras cinco vezes em renegociações feitas pelo próprio PT.

O presidente interino do partido, Tarso Genro, afirmou ontem que aguarda a citação judicial para "examinar a legitimidade da dívida (com o BMG) e negociar prazos". Ressaltou que o débito está na contabilidade oficial da legenda, "mas isso não quer dizer que o PT tem dinheiro para pagar" .