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Dirceu admite reuniões com Rural e BMG, mas não revela motivo
Autor: Expedito Filho
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/07/2005, Nacional, p. A5
O deputado José Dirceu (PT-SP) confirmou ontem em nota oficial que se encontrou mais de uma vez com integrantes da diretoria dos bancos Rural e BMG, como revelou Renilda Santiago, mulher do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, em depoimento à CPI dos Correios. Dirceu, porém, negou que os encontros tivessem sido feitos para tratar dos empréstimos que as duas instituições fizeram para o PT e que tiveram Marcos Valério como avalista. Na curta nota oficial, Dirceu confirma a informação de Renilda sobre o encontro, mas desmente a sugestão da depoente de que as reuniões teriam tido os empréstimos como tema.
"Estive com diretores dos Bancos Rural e BMG em ocasiões diferentes - e por solicitação das entidades - durante o período que estive na Chefia da Casa Civil da Presidência da República", afirma. Em seguida, Dirceu completa: "Em nenhum momento tratei sobre empréstimos ao PT."
Logo depois da revelação feita por Renilda Santiago, Dirceu ligou para o presidente da CPI dos Correios, Delcídio Amaral (PT-MS), para marcar um encontro ainda para a noite de ontem. "Delcídio, precisamos conversar hoje", disse o ex-ministro. O presidente da CPI não só aceitou o convite, como ficou preocupado com o tom lacônico com que Dirceu falou ao telefone.
"Ele está se sentindo abandonado", lamentou Delcídio em conversa privada com assessores. Na verdade, o comando da CPI dos Correios já vem recebendo sinais do isolamento do ex-ministro. Poucos são os governistas que o defendem das acusações e muitos são os que avaliam que sairá barato se a crise tiver em José Dirceu seu patamar mais elevado.
Nas conversas com os caciques da CPI, o próprio Dirceu já parece dar como inevitável a sua cassação e não esconde dos mais íntimos o desapontamento com a tentativa de setores do Palácio do Planalto de jogar toda a responsabilidade da crise em suas costas. Dirceu fez chegar à CPI a sua insatisfação e, de forma velada, avisou que baterá duro em seus opositores.
O primeiro alvo será o PSDB, partido sobre o qual o ex-ministro teria reunido material suficiente para envolvê-lo no esquema de caixa 2 de campanha patrocinado por Marcos Valério. O segundo disparo seria em direção aos setores governistas que o abandonaram. A um integrante da CPI dos Correios o ex-ministro demonstrou, por exemplo, a insatisfação com a manutenção de Luiz Gushiken no governo, apesar de todas as denúncias.
NOVELA
Dentro da oposição, a avaliação é a de que, em seu depoimento, Renilda deixou claro que a estratégia de Marcos Valério será feita degrau a degrau. Ao confirmar que houve uma reunião, em Belo Horizonte, no Hotel Ouro Minas, com a participação do então ministro e a direção do Banco Rural para tratar dos financiamentos ao PT, ela teria pavimentado o degrau José Dirceu.
O deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) deixou a reunião plenária da CPI certo de que, quando Renilda contou também que houve uma outra reunião, em Brasília, com a direção do Banco de Minas Gerais, para acertar o pagamento das contas, ela estava revelando a estratégia de seu marido. "Eles estão contando tudo por etapas", disse o deputado.
Para o governo, se acabar em Dirceu, a crise estaria de bom tamanho.
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