Veja Bolsonaro atava PSL e amplia crise na sigla Fabio Murakawa Marcelo Ribeiro Renan Truffi Raphael Di Cunto 09/10/2019 Valor econômico, v.20, n.4854, 09/10/2019. Política, p. A8 O presidente Jair Bolsonaro ampliou ontem a crise dentro do PSL ao criticar o partido e seu presidente nacional, o deputado federal Luciano Bivar (PE). A fala de Bolsonaro, que pediu a um apoiador que esquecesse o PSL e disse que Bivar está “queimado”, foi flagrada pela transmissão ao vivo de um “youtuber” que o apoia. Ele se misturou aos populares em frente ao Palácio da Alvorada para captar imagens do presidente. A transmissão captou o momento em que Bolsonaro é abordado por um seguidor nos seguintes termos: “Bolsonaro, sou de Recife, pré-candidato do PSL”. Em seguida, o presidente se aproxima dele e cochicha ao pé do ouvido. “Esquece o PSL”. Ainda assim, o apoiador abraça Bolsonaro e pede para gravar um vídeo. “Eu, Bolsonaro e Bivar, juntos por um novo Recife”, gritou. Diante da mensagem, o presidente faz um apelo ao apoiador. “Cara, não divulga isso, não. O cara [Bivar] está queimado pra caramba, vai queimar meu filme”, disse. “Esquece esse cara, esquece o partido”, complementou o presidente. Uma eleitora, que também estava presente, repete a recomendação. “Bolsonaro mandou apagar, apaga”, diz. O homem, então, se convence. “Vou esquecer”, diz. Em seguida, ele pede para refazer a gravação com o presidente da República e muda a mensagem: “Viva o Recife, eu e Bolsonaro”. O presidente tenta se descolar do PSL em meio a denúncias de irregularidades envolvendo a sigla. A legenda pode ter problemas na Justiça eleitoral por conta das supostas candidaturas laranja em Pernambuco e em Minas, envolvendo tanto Luciano Bivar quanto o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. No dia 17 de setembro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu manter a cassação e inelegibilidade de seis vereadores eleitos pelo PSL na cidade de Valença (PI) por ligações com candidatos laranja. O pleno do tribunal entendeu que esses eleitos se beneficiaram de candidaturas fictícias para preencher a cota mínima de mulheres - caso que guarda semelhanças com o escândalo do “laranjal do PSL”. As declarações do presidente, no entanto, surpreenderam auxiliares dentro do Palácio do Planalto e enfureceram representantes da sigla no Congresso. Um dos auxiliares mais próximos de Bolsonaro, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, foi um dos surpreendidos. Na semana passada, ele viajou acompanhado de Bivar a Pernambuco, como parte de um giro que vem fazendo pelos Estados do Nordeste. A crise no PSL foi tema de conversa entre Bolsonaro, Ramos e o ministro da Secretaria-Geral, Jorge Oliveira, ontem no Palácio do Planalto. Na avaliação de aliados do presidente, o episódio pode acelerar a troca de partido por Bolsonaro. Porém, ainda é preciso saber o que fazer com os deputados que eventualmente queiram acompanhá-lo sem que percam seus cargos. A próxima janela para trocas partidárias na Câmara ocorre em abril de 2022. Até lá, os mandatos pertencem aos partidos. Dirigentes do PSL também afirmaram terem sido surpreendidos com a crítica feita pelo presidente ao partido e atacaram a postura de Bolsonaro. O líder da sigla no Senado e ex-presidente do diretório paulista, Major Olímpio disse que está “perplexo” com as declarações de Bolsonaro contra o partido e afirmou que a legenda é “100% fiel” ao presidente. Olímpio já vem se desentendendo com um dos filhos do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). O principal ponto de discórdia é a CPI da Lava-Toga, que Olímpio defende para investigar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), mas que conta com a oposição de Flávio. Na segunda-feira, Olímpio chegou a dizer que “Flávio Bolsonaro acabou para mim, não existe”. Olímpio afirmou ontem ter sido “pego de calças curtas” com a crítica de Bolsonaro. “O PSL é o partido do presidente, o único partido que é 100% fiel ao presidente em todas as votações”, afirmou. “Realmente estou perplexo com essa declaração”, disse. Segundo Olímpio, “não dá para entender” a declaração de Bolsonaro, pois “ele é o nosso líder maior”. “É a mesma coisa que alguém morar sozinho e fugir de casa. O PSL é ele. O PSL cresceu em torno dele”, disse o senador. “Nós nos elegemos e temos uma bancada robusta por causa do presidente Jair Bolsonaro”, disse. Também está por trás da insatisfação de Olímpio uma disputa pelo diretório do PSL em São Paulo, na qual rivaliza com o grupo de outro filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro. Essa disputa se refletiu na discussão de Olímpio com o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (PSC), também filho do presidente, que o criticou pelo Twitter. “Com todo respeito ao @majorolimpio. Lembro exatamente como foi sua campanha para senador e dos detalhes no hospital, mas que fazem parte da vida pública. Fico estarrecido da maneira como este senhor trata o Presidente hoje! Ninguém é imune à críticas, mas meu Deus! É surreal”, escreveu. Major Olímpio respondeu e disse que “ninguém no Senado” defende mais Bolsonaro do que ele e que as discordâncias são “em relação à gestão dentro do PSL em São Paulo”, hoje comandado por Eduardo Bolsonaro. Já o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), disse que Bolsonaro “não pode cuspir no prato que comeu” e afirmou que o presidente deve “agradecimento e lealdade” ao presidente nacional do PSL. “Zero preocupação com essas declarações. Tem janela para alguém sair do partido?”, disse ele ao Valor. “Bolsonaro não pode cuspir no prato que comeu. Foi Bivar quem deu espaço no PSL a ele e a todos nós para concorrermos no ano passado. Devemos lealdade e agradecimento a Bivar”, afirmou.